Só para pensar um pouco, e como não não tenho dados específicos, fiz uma pesquisa básica com alguns colegas da periferia e resolvi postar. Se um pequeno agricultor tem uma área igual, em medidas, a que eu ocupo, e resolvesse criar uma vaca, recém parida. Nas proporções de área que tenho, seria apenas uma mesmo, comendo pasto sem irrigação e adubado pelo próprio esterco. Considerando que esta vaca produza dez litros de leite por dia, amamentando apenas uma teta, teríamos sete litros e meio de leite por dia durante sete meses, contabilizando 1575 litros de leite no período, o que alimentaria 7 crianças-dependendo da fome das crianças- no período. Contabilizando que esse leite será produzido e consumido no local, teríamos gasto reduzido de água e energia pós produção. Ainda assim, no final da lactação- desmama do bezerro, sobrariam duas opções, vendo a vaca e engordo o bezerro ou vendo o bezerro e espero um novo parto e lactação da vaca.
Esqueci de perguntar o período entre a fecundação até a próxima lactação, mas resolvi vender a vaca para não ficar com a área ociosa. O bezerro levará 12 meses para se tornar um boi adulto e mais 4 meses de engorda totalizando, em média 25 arrobas- se tudo correr bem e eu tiver sorte- No final do ciclo, tenho 375 kg de boi abatido que perde cerca de 30% do seu peso na retirada de ossos e vísceras, resultando em 262 kg de carne. Imaginando que uma pessoa consuma uma média de 400 gramas de carne por dia, e que 16 meses são 480 e oitenta dias, uma pessoa consumiria 192 quilos no período total, sobrando 70 quilos que ajudaria a sustentar um dos moleques lá trás por mais 175 dias.
Ontem à noite, fui convidado para um churrasco na empresa, 12 reais para a carne, o arroz e o refrí, a bebida era paga à parte. Mas não pude ir, somente na manhã de hoje eu me atentei à tais detalhes da conduta humana. Lendo uma matéria de Quantas pessoas passam fome enquanto produzimos grãos, utilizamos solos, água, energia para garantir aquele churrasquinho com os amigos ou família no final semana? Quantas pessoas deixaram de se alimentar, sem acesso aos recursos necessários para comprar a sua alimentação enquanto saboreamos aquele bife diário, as vezes nas duas refeições?
Hoje passei a tarde com dois jovens da escola Luiza Nory, onde inventamos uma pequena estufa com sacos de batatas e pés de carteiras quebradas para a cobertura das nossas "3" bandejas de mudas. A ideia é passar para os outros alunos que muito do que é visto como inservível, tem alguma finalidade, em algum lugar. ficaria muito mais bonito, muito menos trabalhoso, utilizar de telas de sombrite, mas não era essa a intenção, semeamos as três bandejas com quatrocentas mudas de alface e duzentas mudas de almeirão, falamos dos projetos da escola e da participação dos alunos e dos professores durante as aulas, e de como o projeto está andando, aferimos o composto e sentimos a falta do professor Marcos que não pode estar presente, mas que aprendeu a técnica da compostagem e a faz com maestria.
Mesmo que eu tenha falado algum besteira em meus cálculos matemáticos, as 400 gramas de carne que eu iria degustar acabaram se revertendo em 600 mudas de verdura, a farra com os amigos em um "papo cabeça" e ainda economizei 12 reais fora o "chopp". Acredito que não é verdade que exista falta de alimentos, o que faltam são condições para que as pessoas mais pobres tenham acesso a ela, faltam mecanismos capazes de promover a produção de alimentos sem agredir o meio e sem a capitalização da sua produção, falta vontade, informação, conscientização e humanização.
Um pouco de terra, um pouco de lixo corretamente tratado, um pouco de água, uma garrafa e uma muda de morango, a natureza fará a vida mais doce e não nos cobrará nada. Nossos líderes sabem disso, mas talvez não tenham tempo para lembra de um detalhe tão banal.
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