segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os águas e a urbanização.

Para entender como as cidades se integram com o ambiente natural e como afetamos a estrutura do nosso meio sem nos preocupar com as consequências das nossas ações, fui visitar alguns pontos que pudessem representar a interligação e interdependência do ser humano com o meio e com os recursos naturais. escolhi a água, sua no meio disponibilidade e seu ciclo.
Todo ser vivo depende da água para viver, as paisagens são formadas através da ação do tempo, da ação dos fenômenos naturais, das reações ocorridas e da multiplicação da biodiversidade. 
 As margens de cursos d'água são preservados naturalmente, ventos, chuvas, decomposição de rochas, matéria orgânica formam um  solo propício para o surgimento da vegetação de proteção. 
Às margens do leito crescem árvores e arbustos, cujas suas raízes ajudam a proteger o solo contra a erosão.
 Nas épocas de chuvas, a vegetação se torna viva e colorida, os solos férteis se inundam de beleza.
 Formam-se áreas de alagados, escape natural do excesso de enxurrada e transbordo dos rios.
 Galhos secos e folhas mortas ajudam a beber a água da chuva, controlando também o transporte de partículas que cobririam o leito causando assoreamento.
 As minas brotam límpidas e escoam em caminhos como se fossem veias, escoando as áreas de alagados.
 Mas as águas de cá são as mesmas que passam por outros locais, às vezes não tão conservados, as vezes, não naturais.
 No meio natural não há poluição, líquens e musgos brotam dos troncos, colorem e aveludam a madeira ainda viva.
 As águas são cristalinas, escoam em leitos de pedra, cantando toadas em coro com pássaros e som das folhas ao vento.
 Mas é influenciado pelo homem. Até mostra que é possível se regenerar, renascer, florir...
 E o homem não percebe, constrói às suas margens ignorando a sua beleza e naturalidade.
 O que era natural acaba perdendo a pureza. Toda essa simplicidade está no final de um curso, pouco antes do desague em outro rio, o qual é tão triste quanto o meio do caminho, na zona urbana.
 As cidades são formadas, inicialmente, em terras férteis e às margens de cursos d'água. Com a urbanização, findam-se as zonas de escape e a proteção natural oferecida pela vegetação.
 As águas correm em canaletas retas, recebendo o descarte de águas que escoam em vias e vielas.
 Carreiam sacos, folhas, papeis, óleos, areia e outros produtos de descarte das atividades humanas.
 As águas turvas daqui são as mesmas de lá, percorrendo e lavando nossos dejetos e rejeitos, nosso descaso.
 Perto das nascentes, correm em solos de preservação, com vegetação a natural nativa ou recuperada. 
 Mas sofre as consequências da ação econômica, com fertilizantes e defensivos agrícolas. Logo em seu ínicio.
 Antes de chegar na área urbana, irriga hortas e recebe entulho e galhos, e continua o seu caminho.
 Entram nas cidades por tubulações, recebendo os despejos urbanos, muitas vezes, esgoto não tradados.
 Cá temos cem por cento de esgoto coletado, para o bem do córrego que corta o centro, em seu início, a proteção da barranca é baixa, terra e folhas são carregadas quando das chuvas mais pesadas. 
 As áreas de alagados são impermeabilizadas e as enxurradas são despejadas in natura no seu leito.
 Areia e lixo assoreiam o leito e a vegetação impede a entrada de luz, pequenos fios d'água sobrevivem.
 Mais a frente, resíduos das sarjetas se acumulam no fundo, a construção de degraus no leito, com pedra, ajuda a minimizar os impactos negativos, mas não minimizam os problemas. 
 Ao longo do percurso, as laterias de proteção são aumentadas, a coleta de água pluvial aumenta e periga as construções que margeiam o córrego.
Canaletas profundas e largas buscam recebem mais água, tentam conter a vazão natural que ocorrerá para as antigas áreas de alagado, hoje impermeabilizadas e ocupadas pelo homem. 
Nosso córrego deságua no limite, da cidade e da vida, para um meio mais natural, tentando se recuperar. 
Antes de desaguar, recebe as águas de um outro córrego, não canalizado, preservado em algumas áreas de escape.  
 Mas que também recebe resíduos das sarjetas em seu leito.
 Entulho e lixo forma jogados em seu leito no início da formação da vegetação de proteção.
 As áreas de preservação são mantidas, recuperadas e isoladas para proteger as barrancas. 
Mas a urbanização acontece antes da preservação, os solos são carreados para o leito, pouco se vê. 
 São fios de água que acabam propiciando enchentes e alagamentos, estragam ruas e desvalorizam imóveis.
 Um pouco antes, corria em cursos naturais, onde a urbanização ainda não afetavam a sua trajetória.
 Mas não passam sem muita intervenção, as cidades crescem desordenadas, nem sempre são pensadas. 
 Áreas de alagado recebem urbanização, casas de periferia. As cidades crescem, as preocupações aumentam.
Onde haviam veias existem poças, surge a coloração do ferro diluído dos solos vermelhos.  
Poucas áreas de alagados resistem à ocupação humana, são loteadas a cada necessidade, são soterradas.
 Restam os fios d'água que correm entre a vegetação restante, tentando sobreviver.
 Já passou por outro loteamento, ou parte do mesmo loteamento, pois todos se unem e se multiplicam em tamanho.
 São veias vivas de um veio maior, de um único que circula os meios naturais e urbanos, de limites em limites.
  Nem sempre vemos de onde vem, sabemos que surgem de algum lugar e que cortam as cidades.
Chegam escondidos da vista humana, passam desapercebidos dos olhos, cortam as paisagens e recebem chuvas, evaporam e formam as chuvas, se renovam no bater nas pedras, se poluem no correr das pedras.
 São veios de água que riscam a paisagem, insignificantes. São veios de água que sustentam a vida, mais nada, só são veios d'água, a única água que passa, que já passou e que passará por aqui.
Como ela irá passar, depende da nossa vontade.   
Nossos córregos desaguam em um ribeirão que abastece a cidade, um pouco abaixo da central de tratamento de esgoto, que deságua um pouco abaixo da estação de captação. ou seja, nasce recebendo resíduos e deságua em contato com resíduos. Felizmente, temos um programa de gestão ambiental que minimiza os males, mas não os elimina. Poderia ser pior.
As águas que passam por nossas cidades capturam os poluentes e os eliminam. Solvente universal, consegue  se recuperar para novo retorno ao ciclo. A quantidade e complexidade das moléculas que recebe é que influenciará na sua recuperação.
Quanto as cidades, é necessário que se repense a urbanização de bairros e a captação de águas pluviais, a captação e tratamento de esgotos residuários, a preservação anterior das áreas de alagado antes da urbanização e sua limitação, quanto a população, repensar o uso de produtos de limpeza, o uso de inseticidas e produtos químicos diversos, a manutenção de vazamentos de graxas e combustíveis em veículos, a disposição do lixo, a preservação da limpeza de ruas e calçadas. Talvez assim, consigamos fazer com que as águas percorram caminhos mais suaves e que se renovem de forma natural.   


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